A voz poderosa da superestrela da música tejana Selena Quintanilla-Pérez, conhecida apenas como Selena, ainda é um elemento que resiste em lares e festas latinas quase 30 anos após sua morte.
O luto que envolveu os fãs imediatamente após a tragédia transformou-se ao longo dos anos em uma celebração do ícone cultural que ocorre todo ano, nos dias que antecedem seu aniversário em abril. Mas, neste ano, a homenagem é acompanhada por uma sensação de alívio, pois Yolanda Saldívar, a mulher que atirou e matou Selena em um quarto de motel no Texas, teve sua primeira tentativa de liberdade condicional negada.
“Hoje, somos gratos que a Junta de Indultos e Liberdade Condicional do Texas tenha escolhido negar a liberdade condicional para Yolanda Saldívar”, disse a família Quintanilla e o marido de Selena, Chris Pérez, em uma declaração conjunta compartilhada em suas plataformas de mídia social.
“Embora nada possa trazer Selena de volta, esta decisão reafirma que a justiça continua a prevalecer pela bela vida que nos foi tirada e de milhões de fãs ao redor do mundo cedo demais”, acrescentou a família no comunicado.
Saldívar, 64, está cumprindo uma sentença de prisão perpétua pelo assassinato da cantora em 1995. Ela cumpre pena em uma prisão em Gatesville, no Texas.
Nas semanas que antecederam a decisão da junta de liberdade condicional, alguns fãs conversaram sobre a possível libertação de Saldívar, enquanto outros permaneceram focados em celebrar a vida e o legado de Selena – muito parecido com a família da cantora.
“Se eu sou a fã de Selena y Los Dinos que digo ser, acho que essa é a parte mais importante. … Eles (a família de Selena) estão celebrando a vida dela e celebrando seu legado”, disse Stephanie Bergara, cantora e compositora de música country e tejana e vocalista da banda de tributo a Selena Bidi Bidi Banda, baseada no Texas.
Os pais de Selena, sua irmã e membros da banda se juntaram a fãs e membros da indústria cinematográfica no início deste mês, quando “Selena y Los Dinos”, um novo documentário sobre a vida da cantora, estreou no festival South by Southwest em Austin. Semanas antes, o filme foi exibido no Festival de Cinema de Sundance de 2025 e ganhou o Prêmio Especial do Júri de Documentário dos EUA por Narração de Arquivo.
“Ela tem sido uma grande inspiração, especialmente para mulheres latinas como eu”, disse Roberta Salas, uma fã que compareceu à exibição, à afiliada da CNN KEYE. “Ela nos deu a mentalidade de que podemos fazer qualquer coisa.”
Yolanda Saldívar pode pedir pela liberdade condicional novamente?
Saldívar entrou na vida de Selena como uma fã e depois se tornou a presidente do fã-clube da cantora e chegou até a gerenciar algumas das boutiques de roupas dela.
Em 31 de março de 1995, a “Rainha da Música Tejana” – que era conhecida por seu primeiro nome – estava se encontrando com Saldívar em um motel em Corpus Christi quando a fã atirou nela. Elas estavam discutindo as preocupações de Selena de que Saldívar estava desviando dinheiro da cantora, segundo um depoimento durante o julgamento do assassinato.
Selena tinha 23 anos e o primeiro álbum em inglês dela estava prestes a ser lançado.
Saldívar foi condenada por assassinato em primeiro grau e à prisão perpétua. O caso dela foi colocado em revisão para liberdade condicional nos últimos meses com base no tempo que ela cumpriu na prisão, que começou quando ela foi detida pela primeira vez, e porque o crime pelo qual ela foi condenada permitia a consideração de liberdade condicional, de acordo com o Departamento de Justiça Criminal do Texas.
Saldívar teve a liberdade condicional negada na última quinta-feira (27), após seu caso ser revisado por um painel de três membros, de acordo com a Junta de Indultos e Liberdade Condicional do Texas.
“Após uma análise completa de todas as informações disponíveis, que incluíram quaisquer entrevistas confidenciais realizadas, o painel de liberdade condicional determinou negar a liberdade condicional a Yolanda Saldivar e agendar sua próxima revisão de liberdade condicional para março de 2030”, disse a junta em um comunicado.
A Junta de Indultos e Liberdade Condicional do Texas afirma que considera o crime, o “histórico médico e psicológico e como o infrator se adaptou e se comportou na prisão”. Mas o processo não é “simples”; outros fatores, como a indignação pública, bem como o remorso e a responsabilização do infrator, também são considerados na decisão, disse Helen Anne Gaebler, advogada sênior de pesquisa do William Wayne Justice Center for Public Interest Law da Faculdade de Direito da Universidade do Texas.
“O processo de liberdade condicional — não é simples. É muito individual. É muito baseado individualmente, e as circunstâncias desempenham um papel importante”, disse Gaebler.
Em sua experiência representando mulheres no processo de revisão de liberdade condicional no centro do Texas, Gaebler disse acreditar que muitas vezes há uma dependência “de fatores históricos e pouca atenção ou foco em fatores presentes e futuros”.
“Por exemplo, muitas vezes temos indivíduos com a liberdade condicional negada repetidamente por causa da natureza do crime. Essa é uma das bases pelas quais a liberdade condicional pode ser negada. Mas esse é um fator estático que nunca vai mudar”, disse Gaebler.
No caso de Saldívar, a junta de liberdade condicional citou a natureza do crime como a razão para a sua negação.
“O registro indica que o delito em questão possui elementos de brutalidade, violência, comportamento agressivo ou seleção consciente da vulnerabilidade da vítima, indicando um desrespeito consciente pela vida, segurança ou propriedade de outros, de modo que o infrator representa uma ameaça contínua à segurança pública”, disse a junta de liberdade condicional em um comunicado.
No Texas, dezenas de milhares de casos são revisados para liberdade condicional todos os anos, além de indultos, pedidos de liberação médica e revogação de liberdade condicional. Em 2023, 64.785 casos foram considerados para liberdade condicional e cerca de 34% foram aprovados, de acordo com um relatório estatístico anual da Junta de Indultos e Liberdade Condicional do Texas.
O legado de Selena
Décadas após seu assassinato, Selena permanece como um ícone por seus looks característicos; um som único que misturava tejano, dance-pop e R&B; e por colocar a experiência mexicano-americana em destaque.
Bergara, a cantora da banda tributo, tinha apenas 8 anos quando Selena foi morta e nunca teve a chance de vê-la ao vivo. No entanto, a imagem de Selena no palco, cativando grandes multidões, está gravada em sua memória.
“Ela foi a primeira pessoa que vi na televisão que parecia que poderia ser minha parente”, disse Bergara. “Ela foi imediatamente tão identificável para mim e tão identificável para pessoas em todo o mundo agora.”
A banda tributo a Selena, que originalmente pretendia fazer uma apresentação única, agora fez turnês por grandes cidades de todo o país por mais de uma década e viu como o legado da cantora está sendo transmitido através das gerações.
“Nós fazemos shows o tempo todo em que mães da minha idade aparecem, e suas filhas aparecem, e elas estão vestidas como Selena, e amam Selena tanto quanto suas mães amavam”, disse Bergara.
Selena continua a cativar o público, como evidenciado por sua estrela na Calçada da Fama de Hollywood, concedida em 2018, uma minissérie da Netflix inspirada em sua vida em 2020 e o lançamento de uma segunda coleção da MAC Cosmetics inspirada nela no mesmo ano.
Ela também foi agraciada postumamente com a prestigiosa Medalha Nacional de Artes em 2023 pelo ex-presidente Joe Biden, a maior honraria concedida a artistas pelo governo federal.
Em Corpus Christi, onde Selena e sua família viveram, a icônica cantora é homenageada de inúmeras maneiras. Os fãs podem visitar o memorial Mirador de la Flor e sua estátua de bronze em tamanho real, o Museu Selena e o auditório da cidade, que foi renomeado em sua memória.
Sonya M. Alemán, professora da Universidade do Texas em San Antonio, ministra desde 2020 um curso focado em Selena e seu impacto duradouro na sociedade. Seus alunos entrevistaram centenas de fãs de Selena e aprenderam por que ela permanece um símbolo cultural apesar das diferenças geracionais.
“O legado dela não diminuiu. Pelo contrário, está se fortalecendo”, disse Alemán. Para aqueles que vivenciaram a vida e a morte de Selena, sua conexão com a cantora é claramente definida – eles compareceram a shows e sessões de autógrafos e a admiravam como uma pioneira e uma orgulhosa Tejana, explicou Alemán.
Para os fãs mais jovens, muitos dos quais nasceram na virada do século, a música de Selena significa lar. Suas canções eram um elemento básico em eventos familiares – quinceañeras, carne asadas e reuniões familiares.
“Quando eles pensam em Selena, eles pensam em casa, pensam em família”, disse Alemán.
Para Alemán, o legado duradouro de Selena é uma prova da “necessidade retumbante e constante não apenas de elevá-la, mas de nos vermos”.
“Ela ainda é amada e ainda é uma história e uma pessoa que as pessoas querem continuar a lembrar e manter seu legado vivo”, disse Alemán. “Eu também acho que isso significa que a comunidade à qual ela pertencia, com a qual ela se identificava, ainda tem sede de representação.”
Para fãs como Bergara, a celebração da vida de Selena que ocorre todos os anos por volta de seu aniversário, em 16 de abril, não deve ser ofuscada pelos desenvolvimentos no caso de Saldívar.
“Eu não quero dar a ela nenhuma atenção”, disse Bergara. “Eu simplesmente não acho que valha a pena, e no que deveríamos estar focando são 30 anos de Selena, 30 anos de sua vida icônica sendo celebrada.”
A família Quintanilla e seu marido disseram, após a liberdade condicional de Saldívar ser negada, que Selena “viveu com alegria, deu-se abnegadamente e continua a elevar gerações com sua voz e seu espírito” e pediram aos fãs que se lembrassem disso.
“Continuaremos a celebrar a vida de Selena – não a tragédia que a tirou de nós – e pedimos que todos que a amam façam o mesmo”, disseram eles.
