Com uma trajetória marcada pela paixão pela música e pelo axé, Simone construiu uma carreira sólida dentro e fora do Brasil. Em entrevista exclusiva à Alvo dos Famosos, ela relembra sua trajetória, fala sobre a evolução do axé music e revela seus sonhos para o futuro.
Alvo dos Famosos: Como começou sua carreira?
Aos 14 anos, minha família se mudou para São Gonçalo dos Campos, e eu ganhei um violão do meu tio. Daí não parei mais de cantar. Era nas festas dos meus amigos, na escola, nas serenatas… Foi lá que comecei a cantar na banda de baile Raízes e depois na banda Som Livre, de Feira de Santana. Em um show no Clube de Campo Cajueiro, encontrei Alberto Trípodi, produtor da Banda Novos Bárbaros. Ele estava procurando uma nova cantora para o trio, assistiu ao meu show e, no final, foi ao camarim e me contratou. Assim começou minha trajetória profissional.
Alvo dos Famosos: Você é uma das precursoras do axé music, um gênero que ganhou o mundo. Como vê o movimento hoje, que muitas vezes já foi dado como ‘acabado’?
O axé music começou nos anos 1980, quando as gravadoras buscavam novos artistas e ritmos. Surgiram nomes como Luiz Caldas, Carlinhos Brown, Daniela Mercury e Margareth Menezes, verdadeiros precursores do axé. Em 1986, entrei nesse cenário com os Novos Bárbaros, e muitos outros artistas e bandas foram surgindo. O axé abriu portas para compositores apresentarem suas canções e se tornou um gênero imenso, representando a cultura baiana no mundo. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa história! Para mim, o axé não acabou, pelo contrário, só se fortalece, especialmente com talentos atuais como BaianaSystem e Filhos de Jorge. É um gênero amplo, que absorve influências do forró, samba duro, ijexá, maracatu… Sempre serei uma das divulgadoras do axé pelo mundo.
Alvo dos Famosos: A música “A Terra Tremeu” fez grande sucesso na sua voz. Como ela chegou até você?
Meu primeiro contato com a cultura afro consciente foi quando minha mãe me levou a um terreiro de candomblé. Fiquei encantada com os ritmos e as danças dos orixás. Sempre fui próxima dos blocos afros e frequentava ensaios do Olodum, Muzenza, Ilê Ayê e Timbalada. Foi num ensaio do Muzenza que ouvi ‘A Terra Tremeu’, de Sacramento, e tive certeza de que queria ser uma das porta-vozes do meu povo negro através dos blocos afros. Gravei essa e outras canções que marcaram minha carreira solo, como ‘Eh Moça’, ‘Mulheres do Mundo’, ‘Sambaê’ e ‘Brilhou’.
Alvo dos Famosos: Depois do axé, você investiu em um projeto de samba com produtores como Roberto Menescal e Rildo Hora. Sentiu preconceito dos sambistas por ter vindo do axé?
Morei cinco anos no Rio de Janeiro antes de me mudar para a Suécia, e foi uma experiência impagável! Meu primeiro CD produzido lá foi Morena (1996), com Pepeu Gomes. No Rio, frequentei ensaios da Mangueira e da Portela e sempre fui bem recebida. Conheci grandes nomes do samba como Noca da Portela, Martinho da Vila, Sombrinha e Zeca Pagodinho. Nunca senti preconceito por ter vindo do axé, pelo contrário, fui respeitada. A Warner, minha gravadora na época, me convidou para um projeto homenageando o samba, e tive a honra de trabalhar com Rildo Hora, que produziu Manda Me Chamar (1994), e Roberto Menescal, que produziu Desde Que o Samba É Samba (2001). O samba é um ritmo clássico que representa o Brasil, e me senti privilegiada por cantar esse gênero.
Alvo dos Famosos: Morando na Suécia, como vê a aceitação da música brasileira no exterior?
Quando me mudei para Estocolmo, em 2001, a música brasileira ainda era vista como algo exótico, tipo ‘show para gringo ver’. A música afro-baiana era pouco conhecida por aqui, mas o público era curioso. Agora, com a chegada de novos artistas e músicos brasileiros, a Europa está aprendendo a valorizar nossa música como algo de qualidade, não só como algo ‘exótico’. As possibilidades estão se ampliando.
Alvo dos Famosos: Mesmo fora do Brasil, você voltou algumas vezes para o Carnaval de Salvador. Pensa em voltar a morar no Brasil?
Nos primeiros anos, ainda recebia propostas para cantar no Carnaval, mas, por não estar tanto na mídia brasileira, fiquei distante do meu público. Quando ia visitar minha família, participava de shows e matava a saudade. Mas, com o tempo, fui me dedicando ao meu trabalho na Suécia, onde lancei quatro CDs. Construí uma vida e uma carreira aqui também, então meu coração está dividido. Meu plano é dividir o ano e viver entre os dois países.
Alvo dos Famosos: Nos anos 1980, o axé music ainda dava seus primeiros passos. Era difícil para uma mulher transitar nesse mercado, predominantemente masculino?
No começo, com os Novos Bárbaros, tive a sorte de trabalhar com gente bacana, como Alberto Trípodi, Jota Morbeck e Edu Casanova. Sempre nos fortalecemos mutuamente. Mas, claro, a concorrência existia e sempre vai existir. Eu sabia disso, mas estava focada em cantar e viver a experiência única que era aquele momento.
Alvo dos Famosos: Você fez um comercial para uma grande cervejaria. Deu para ganhar dinheiro naquela época?
Foi uma experiência bacana! Na época, fazer comercial para cerveja gerava muita visibilidade para os artistas e ajudava a conseguir mais shows. Ganhei bem, deu para viver muito bem por um tempo, mas não fiz fortuna. A gravação com Carlinhos Brown e a Timbalada foi uma das partes mais divertidas desse período.
Alvo dos Famosos: Qual o seu grande sonho?
Tenho muitos sonhos! Mas, neste momento, um dos maiores é fazer um show em Salvador, totalmente aberto ao público, perto do mar.
Alvo dos Famosos: Nestes 40 anos do axé music, qual música você considera o hino do Carnaval?
São tantos clássicos maravilhosos! Fica difícil escolher uma só. Mas, para mim, um grande hino é ‘Chame Gente’, de Moraes Moreira e Walter Queiroz, porque o Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar são os verdadeiros reis do Carnaval e inventores do trio elétrico.
Alvo dos Famosos: Sua contribuição para o axé foi fundamental. Em que momento e por que decidiu mudar de rota na carreira?
Na verdade, nunca mudei de rota. Sempre cantei de tudo! No meu primeiro CD solo, que tem ‘Eh Moça’, também cantei ‘Palco’, de Gilberto Gil, e ‘Você Não Sabe Amar’, do Caymmi. Sempre fui curiosa e aberta a diferentes estilos. Fazer um disco homenageando o samba nunca foi um problema, porque sou uma intérprete eclética. Comecei com o axé com muito orgulho, mas sempre escolhi cantar o que me toca na alma, independente do gênero.
Alvo dos Famosos: Quais cantoras foram suas referências?
Minha casa sempre foi musical! Meus pais amavam música, e eu cresci ouvindo Clara Nunes, Michael Jackson, Dolores Duran, Donna Summer, Benito de Paula, Jackson do Pandeiro, Jair Rodrigues… Mas acredito que minhas maiores influências foram Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Maria Bethânia e Sandra de Sá.
Alvo dos Famosos: Qual é o grande amor da sua vida?
Tenho vários amores: minha família, a música, meu marido… Mas o grande amor da minha vida é meu filho, Rufus. Para sempre.