A trajetória da banda Reflexu’s marcou a história da música baiana, e a voz potente de Marinez, ex-vocalista do grupo, foi fundamental nesse sucesso. Formada em 1986 no bairro do Cabula, em Salvador, a Reflexu’s conquistou o Brasil com hits inesquecíveis como Madagascar Olodum, Alfabeto do Negão, Libertem Mandela e Canto Para o Senegal, tornando-se a primeira banda baiana a vender mais de um milhão de discos.
Além do sucesso nas rádios, Marinez fez história ao se tornar a primeira mulher negra a cantar músicas de Axé Music em programas nacionais, levando o ritmo baiano para todo o país. Durante os anos 80, a Reflexu’s esteve presente quase semanalmente no icônico programa Globo de Ouro, da TV Globo, que reunia os artistas mais tocados do momento.
Com sua voz marcante e presença de palco, Marinez ajudou a abrir portas para outras cantoras negras na música baiana, consolidando seu nome como um dos grandes destaques do Axé Music.
AF: Como você se descobriu cantora?
MARINEZ: Nasci com o dom da música. Sempre entendi isso desde pequena.
AF: A banda Reflexu’s e Marinez se encontraram em qual momento?
MARINEZ: Três meses antes do Carnaval de 1987.
AF: Como surgiu esse convite para ser vocalista?
MARINEZ: O convite para ser uma das cantoras da banda surgiu através de um amigo que sabia que eu cantava.
AF: Você é a primeira cantora do Axé Music negra a se apresentar nos programas nacionais?
MARINEZ: Acho que sim. Foi no Programa do Chacrinha.
AF: Quais programas você cantou?
MARINEZ: Todos os programas que existiam na época, em todos os canais de TV. Além das rádios AM e FM e os principais jornais do Brasil.
AF: Quais os sucessos da banda Reflexu’s na sua voz?
MARINEZ: Nossa… são inúmeros. Eu não sei dizer aqui todos porque gravei muitas músicas.
AF: Você sofreu preconceito por ser mulher negra e vocalista de uma banda na década de 80?
MARINEZ: Com certeza. O preconceito é um câncer que, às vezes, está escondido, outras vezes, revelado. Mas é certo, infelizmente, que em algum momento o negro sofre o racismo. O racismo é construído a partir do momento em que um povo acha que é superior ao outro: o homem em relação à mulher, o branco em relação às outras raças, o racismo territorial, onde quem pertence aos países desenvolvidos tem preconceito contra os de outros países, quem mora em bairros de luxo em relação aos da periferia, entre outros.
AF: Qual o ponto positivo e negativo na caminhada da banda Reflexu’s?
MARINEZ: Valeu para que eu pudesse pregar o evangelho com mais facilidade. Pelo fato de ter sido famosa, facilitou a pregação da palavra de Salvação, chamando atenção para o fator vida eterna, levando a mensagem da salvação pelo arrependimento dos nossos pecados e pelo reconhecimento de Cristo como mediador entre a humanidade e o Senhor nosso Deus Todo-Poderoso.
AF: O Axé Music completa 40 anos. Qual seu resumo sobre esse movimento?
MARINEZ: Eu comeceij minha carreira profissional cantando samba-reggae. Era o ritmo que identificava nosso trabalho, uma criação de Neguinho do Samba.
AF: Qual das cantoras do gênero de axé você gosta?
MARINEZ: Me afastei totalmente da música midiática em 1996. Desde então, não me interesso pelo sucesso do mundo. Me interesso pela vida eterna e desejo que todos pensem assim. Reconheçam o Senhor Jesus Cristo como Salvador da humanidade, como a ligação entre a humanidade e o Criador, porque este mundo está passando rapidamente, mas nós fomos criados para o louvor da Glória de Deus.
AF: A Reflexu’s chegou a fazer shows internacionais?
MARINEZ: Chegou a marcar, mas por problemas de falta de organização interna, não honrou os compromissos internacionais. Mas a gravadora, por ser multinacional, lançou os discos em todos os países que tinha filial e venderam milhares de cópias.