A escritora Thalita Rebouças, de 49 anos, contou, em entrevista à CNN, que é cobrada por escrever sobre adolescentes e ter escolhido não ter filhos. Ela foi uma das atrações do segundo dia da Bienal do Livro de São Paulo, no sábado (7).
A carioca afirmou que considera isso um preconceito e comparou sua situação com a de Raphael Montes, escritor de literatura policial que, segundo ela, não recebe cobranças para matar pessoas. Ela critica a postura de quem espera que o autor escreva apenas sobre coisas que viveu.
“Durante muitos anos, por escrever para adolescente, fui muito julgada. ‘Como assim você escreve para adolescentes, para criança, se você não é mãe?’. Do mesmo jeito que o Raphael Montes escreve sobre pessoas que matam pessoas e nunca matou ninguém. Acho isso um grande preconceito”, declarou citando o autor de “Jantar Secreto” e “Uma Família Feliz”.
Ela adiantou ainda que abraçou como bandeira a defesa de as mulheres devem se libertar da culpa por não ter tido filhos. Thalita aponta ainda que é mais fácil seguir esse caminho hoje em dia do que era na sua época.
“Eu vou sempre falar sobre isso, o que eu puder fazer para libertar as mulheres da culpa, de não ter filho, de não ficar se achando que falam da gente”, disse. “Acho um julgamento que nenhuma mulher precisa passar e o que eu puder ajudar a meninas de trinta anos, vinte e seis, essa galera que cresceu comigo e que hoje, ao contrário de mim, pode decidir não ter filhos com mais tranquilidade.”
À CNN, a escritora revelou que já chegou a ter vontade de ter filhos, mas pensou bastante e decidiu por não tê-los após perceber que não acha que a maternidade seja para ela.
“Quando as minhas amigas começaram a ter e eu olhava para aquela função, porque maternar não é fácil, eu falava: ‘caramba, acho que isso não é para mim’. Eu falo disso aqui nesse livro. Não sei se eu tinha vocação para educar, para abrir mão de sair, para dizer ‘não’ tantas vezes, o que faz parte da educação. Pensei: ‘será que eu quero mesmo?’”, relatou Thalita.
Primeiro livro de não-ficção
“Felicidade inegociável e outras rimas” marca a primeira vez em que Thalita lança um livro de não-ficção e deixa de lado o público adolescente. Dessa vez, o foco é a menopausa — processo do qual a escritora afirma ter vivido 72 dos 74 sintomas.
“Se eu tenho esse dom de escrever de forma leve, por que não escreveu para a mulher da minha idade — um pouquinho mais, um pouquinho menos — que está passando por isso de maneira mais leve ou mais pesada do que eu e poder fazer com que ela ria disso? É uma fase como adolescência. É uma fase complicada, a adolescência também”, defendeu.
A Bienal do Livro de São Paulo vai até o dia 15 de setembro, reunirá nomes como Jeff Kinney, autor da série “Diário de um Banana”; Junior Rostirola, de “Café com Deus Pai”; e Ernesto Rodrigues, de “Ayrton: O Herói Revelado”.
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